Para o show de Antonio Adolfo, Jorge Helder,
Ivan Conti, Leo Amuedo, Serginho do Trombone
e Carol Saboya no Lapinha Bar
2/10/2010
Alguma coisa maravilhosa estava acontecendo. Alguma coisa maravilhosa escondia outra, não menos mágica, que vinha por baixo, pelos lados, por cima. Perguntas? Caminhos? Paragens? Prazer. Alegria. Na Lapinha. Alguma coisa maravilhosa aumentava a noite e revelava um doce e delicado espanto. Cinco homens e uma mulher brincavam com os deuses, sorriam para o nada, olhavam uns nos olhos dos outros. Mãos fabricavam o sopro que revelava o sol, a penumbra e a luz adestrada. Alguma coisa maravilhosa estava acontecendo. O limão, o limoeiro e o pé de jacarandá apareceram cantados pela terra, que, por natureza e esperteza, é ela. Dedos pareciam apenas apontar para as teclas bicolores do piano ordenando gentis uma oração encantada enquanto um contrabaixo gigante ganhava a confiança de um cometa. Pratos alimentavam nuvens risonhas, vassourinhas limpavam o excesso de vento. Cordas de um violão davam sentido à manhã do poeta, e o trombone, pagão e dourado, anoitecia gordo uma nota entortada de surpresa e elegância. Um susto bom. A música escondida por baixo de outra aparecia sinuosa como cascavel (que é nome de bicho, de música, de excelência). O trombone olha para a bateria e dá as costas ao público; esquece o microfone, a plateia e a vida. Ri da morte. Bateria e trombone trocam sorrisos, tocam entre si e o mundo agradece. Alguma coisa maravilhosa estava acontecendo e eu só entendia o chamado do jazz, a ilusão, a pista, a surpresa, o alumbramento e a brisa quente.
Nas mesas do Lapinha Bar os corpos sorriam porque alguma coisa maravilhosa estava acontecendo. E, no mentiroso final, o pedido de bis fez do infinito uma emoção e uma lei.
Alguma coisa maravilhosa estava acontecendo.